sábado, 18 de fevereiro de 2012

Must the show go on?

There must be some mistake,
I didn't mean to let them take away my soul
Am I too old?
Is it too late?
Where has the feeling gone?
Will I remember the songs?

The show must go on.

Um dia se chega ao esqueleto da vida. Suponho que ainda não tenha chegado, mas me encontre prematuramente muito perto. Como uma fruta, a vida perde a casca, depois os gomos, deixando somente uma áspera, espinhenta, feia semente.
Essa semente é a verdade, a verdade intrínseca de todas as coisas. Na realidade, entenda-me, não existe meio termo, todas as coisas são ou não são. Não existe meio amor, meio carinho, meia maldade, meia indiferença.
Palavras valem pouco, aprendi. Inclusive estas que professo agora. São vãs, não garantem, não mostram: mentem.
No cerne da vida, me vejo despida de tudo quanto achei essencial: tempo, carinho, tudo o que é alheio não posso considerar meu. E só me sobra exatamente o dom que Deus colocou no meu ser no momento da fecundação que me deu a vida: a própria vida.
Me mantenho viva, mesmo quando desejo um sono profundo e demorado, mantenho meu coração pulsando, porque na vida em essência, é isso que importa.
Tudo mais é ilusão.
Na essência do homem vi o amor, ou a crueldade, nos seus maiores requintes: depende do ponto de vista.
E se fiz as escolhas que fiz, foi pra aprender a amar direito: cuidado, amor se traduz nessa única palavra. Não há como amar um ser vivo, qualquer que seja, sem dispender o mínimo de cuidado. Se não for assim, não há amor.
Procuro um amor que não seja feito de palavras. Entenda: amor pelo ser humano, na sua raiz mais profunda, mais básica.
E sobre tudo isso existe o tempo, o tempo que envelhece, que arranca, que revela por fim sua cara.
Como me disse ontem Isabel Allende, "Meu passado tem pouco sentido, não vejo ordem, clareza, propósito nem caminhos, somente uma viagem ás cegas, guiada pelo instinto e por acontecimentos incontroláveis que desviam o curso do meu destino. Não houve cálculo, apenas boas intenções e a vaga suspeita de que existe um traçado superior que determina meus passos."
Na linha do tempo, me reporto ao dia de meu nascimento, do qual não me recordo, mas ouvi contar. Nessa cena que imagino, vejo a força de minha mãe para que eu pudesse nascer, e os braços do meu pai que me apararam na primeira vez que abri os olhos para o mundo.
Só agora entendo que as pessoas que lutarão por mim são aquelas que lutaram desde o momento que dei minha primeira bufada de ar neste mundo, e antes mesmo, em conversas intermináveis, dentro do ventre da minha mãe, quando decidiram me chamar de Sofia.



3 comentários:

  1. lindíssimo e sincero texto, como todos os que você escreve :*

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  2. Sabedoria, minha filha terá o seu nome. E será protegida por Atena.

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  3. Oi Sofia,

    Texto lindo, final emocionante. É tornando-se especialista na vida que conheceremos a morte um dia...
    Abraço,

    Gustavo
    ps: 3 dias depois que eu nasci ainda não sabiam como iriam me chamar. Eu era apenas a "representasão" de um bebê. Minha mãe queria que eu me chamasse Hugo Lorenzo. Escapei.

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