sábado, 28 de abril de 2012

Ana

Minha preta tão amada,
Hoje entendo muito melhor tudo o que você me disse. Hoje morrer não é meu maior medo, hoje o meu maior medo é o de viver, do que ainda pode me acontecer, de quanta gente eu ainda posso perder.
Eu sei, preta, que você estava cansada, mas eu sei também o quanto você quis viver e ser como todo mundo, e eu não aceito, pretinha, eu não aceito que tudo tenha chegado ao fim dessa forma.
Eu escuto a sua voz o tempo todo no meu ouvido, dizendo "não chora, sof", com esse jeitinho meigo com que você costumava falar essas coisas. Me perdoa, pretinha, hoje não consigo. Me perdoa pelas minhas fraquezas todas.
Mas espero, espero a minha hora chegar, eu sei que você vem ter comigo, me olhar com os seus olhos amendoados, e quem sabe num outro lugar, algum dia, a gente possa de novo comer a melhor pipoca doce do mundo e dar gargalhada dum filme de terror horrível.
Segue teu caminho, preta, seja ele qual for, que Deus te ilumine.
Fica aqui, neste mundo feio, o meu amor infinito.

domingo, 22 de abril de 2012

Terra

"Terra! um dia comerás meus olhos…

Eles eram
No entanto
O verde único de tuas folhas
O mais puro cristal de tuas fontes…

Meus olhos eram os teus pintores!

Mas, afinal, quem precisa de olhos para sonhar?
A gente sonha é de olhos fechados.

Onde quer que esteja… onde for que seja…
Na mais densa treva eu sonharei contigo,
Minha terra em flor!"


                               
                                          Mário Quintana