sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Ao ser humano mais livre

Dois pés bailarinos
Dançam por sonhos, tubarões e cortiços
Traçam caminhos
Como dádivas e condenações
Talvez a liberdade seja a nossa pena!
No lugar dos braços, duas asas

Apenas
Há penas
 

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Passageiro

Essa tristeza no olhar
meu bem
deixa o tempo levar
felicidade é onda do mar
que vai e vem

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Conchas

As pequenas conchas nada respondem sobre a imensidão do mar.
Observam inertes e inocentes, com olhos de quem nasceu na areia da praia e viveu sempre na calmaria de fim-de-onda que com um beijo displicente molha os pés.
Não, as pequenas conchas nada dizem sobre as grandes revoluções em alto mar, sobre a sua natureza feroz e inexorável, plenamente cheia de morte e de vida, de cadáveres e óvulos, de assustadores e consoladores braços.
As pequenas conchas mentem descaradamente sobre móveis, em quadros ou dentro de caixas, como delicadas memórias distorcidas.
Minúsculas conchas são como sorrisos partidos, fincados na areia das expressões costumeiras, após avassaladores tsunamis: o sentimento que irrompe em mim.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Poeminha bobo

Olha, meu bem
um passarinho cantando na janela
a noite caindo devagarinho
e se não der pra vida ser mais bela
te peço pra ficar mais um pouquinho

Olha, meu bem
tenho comigo palavras cheias de laços
e quando o tempo quiser fugir
embalamos ele nos braços
até fazê-lo dormir

Olha, meu bem
a vida se renovando no broto que flora
que nasce e que morre
assim como a tristeza que o tempo leva embora
enquanto o dia corre

Olha, meu bem
mais um poema bobo e torto
de alguém que também não sabe o que faz aqui
que ás vezes se sente um peso morto
mas que gosta um pouco mais da vida
se você sorri












quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Epifania

Ontem, no meio de sonhos delirantes
meio adormecidos, meio acordados
minha cabeça vagava por rostos de fantasmas
e eu me perguntava se afinal de contas o belíssimo ano novo
todo arrumadinho e vestido de branco
não estaria de fato amaldiçoado por essa noite insana
suspirando agonia
Ontem, olhando para cima
me vi de uma perspectiva diferente
tão pequena e maravilhada diante do privilégio de existir
ora, veja só, me dei conta de que boio despercebida no infinito
e não sou nada
que solidão consoladora a de me sentir humana
e nada, nem um fio de cabelo, nenhum desejo, nenhum equívoco
além dos próprios de minha humanidade
Ontem não acreditei no que vi nos olhos do amor
o senhor aí, amor, é, o senhor mesmo
não faça essa cara de desentendido
deixe cair sua máscara sublime
por um único momento, me olhe com sinceridade
e venha se arrastar no chão comigo
talvez quando e se o amor for
tão real quanto o barro sob os meus pés
talvez então eu o entenda
talvez então ele fale minha língua
e a aprisione em sua boca!
Ontem eu entendi que o silêncio é o refúgio maior
de quem, à trancos e barrancos, procura manter seus próprios cacos disjuntos
formando uma coisa só
como uma espécie de frankenstein
mas ainda assim, vivo.
Mantenha-se viva.
essa é a ordem
esse ainda é o maior pulsar em mim
o grito de minha espécie.
Ontem tive epifanias doloridas.
Hoje tenho a cabeça dolorida.
Talvez eu esteja lendo Bukowsky demais.