sexta-feira, 25 de março de 2011

Entorpecida

- Alô. Oi. Sou eu. Você sabe quem é, você tem que saber.Tantas palavras de amor sussurradas no teu ouvido, você não pode ter simplesmente esquecido o som da minha voz. Você ainda se lembra? Diz que se lembra? Sabe, talvez você não me queira mais, mas, por favor, não me esquece. Guarda, pelo menos, o som das nossas risadas, nossas noites, os pedaços de mim que eu arranquei com as unhas e te entreguei. O que? Não, eu não bebi. Não, já disse, não mesmo. Ok, só um pouco. É que a bebida confunde momentaneamente meus sentidos, e eu chego a acreditar, na embriaguez, que existe uma forma de ser diferente. É como se eu, de repente, não tivesse que cometer sempre os mesmos erros, é como se eu magicamente tivesse coragem para enfrentar o mundo, num segundo eu não estou mais sozinha, e às vezes até imagino que não te perdi. Sabe... Sozinha eu sempre fui, você mesmo dizia que eu era daquelas pessoas que carregam a solidão nos olhos, mas pelo menos minha solidão era compartilhada, e eu podia me enganar às vezes. Agora não. É solidão física, solidão concreta. E eu estou tão dentro de mim, tão em contato comigo mesma, que a faca da solidão está me fazendo em pedaços. Sabe o que é pior? É que são golpes lentos e gradativos de uma faca cega. Eu acho que vou surtar. Não, não é brincadeira. Eu já não durmo, eu já não como, eu não consigo escrever mais. Estou vivendo no piloto automático, sabe como é? Estou ouvindo aquela música do Pink Floyd incessantemente, do "The Wall" que você me deu, sabe quando o Waters canta assim "I have become comfortably numb"? É isso. Me diz, quem pintou a vida de cinza? Sabe... Você me disse pra eu ser feliz, pra procurar outra pessoa. Mas não dá pra não amar você e só você, não dá pra esquecer as nossas noites eternas, depois de toda a nossa heresia, tantos segredos compartilhados, tanta vida dividida, tantos sonhos sonhados juntos, tantas beijos salgados de lágrimas, os dias em que nos despíamos desesperados, como se o nosso corpo precisasse estar junto, como se o teu corpo e o meu corpo fossem o alívio pra toda a dor. Não dá pra simplesmente esquecer. Como você ousa pedir que eu me esqueça? Acho que você sabia disso desde o começo. Do que? Você sabia que eu jamais te esqueceria. Não, por favor, não desliga. Eu prometo que não falo mais disso. O que? Se eu estou usando algo mais forte? Não, hoje não. O que? De vez em quando. Eu sei, eu sei, essa coisa que a gente conversava, de auto-destruição e não sei o que. Mas não é só isso. É que tá tudo vazio, sabe? Tá vazio demais. "Um vazio se faz em meu peito, e de fato eu sinto em meu peito um vazio". Lembra como você tocava lindo essa música no violão? Você ainda toca Cartola? Eu? Parei de dançar. Ah, porque já não tem sentido. Eu expressava o que tinha dentro de mim, mas não tem mais nada... Não é pessimismo. Não, não é. Eu não sei explicar o que é. Repete. Ah, tenho cuidado dela sim, tá toda florida. Mesmo. Acho que é a única parte da casa, de mim, que ainda concentra um pouco de cuidado e atenção. Sabe por que eu cuidei da tua roseira? Porque ela é um pedaço de você. E eu tenho cultuado cada pedaço de você nessa casa, como uma maníaca, uma obsessiva, uma louca desvairada... No fim, a conclusão que eu tiro disso tudo é que o amor só infertilizou meu ser, meu coração, meus pensamentos, minhas idéias. O que? Não, eu não estou dizendo que a culpa é sua. É só que eu estava olhando aqui da janela a enxurrada, a água descia com extrema violência e ia levando tudo pelo caminho. Passou uma pela minha vida. Não, não foi você. Foi a crueldade de perceber de repente a realidade, de olhar-me no espelho e dar-me conta do ser deplorável que eu sou. Perder você foi só mais uma prova da minha incompetência. Eu nasci errado... O que? Pra onde? Não, por favor, eu imploro, não desliga. Eu sei. Eu entendo. Não, não entendo. Não me deixa aqui sozinha, eu estou com muito medo de mim. Não vai. Por favor? Você tá aí? Você tá aí? Alô?

segunda-feira, 21 de março de 2011

O mofo

*Esse texto é do primeiro semestre de 2010, encontrei no meio de uns papéis velhos (de quando eu ainda escrevia todos os textos manuscritos).

"Eu não queria que ele pensasse que eu andava bebendo, e eu andava, todo dia um bom pretexto, e fui pensando também que ele ia pensar que eu andava sem dinheiro, chegando sem táxi naquela chuva toda, e eu andava, estômago dolorido, e eu não queria que ele pensasse que eu andava insone, roxas olheiras (...), e tudo que eu andava eu não queria que ele visse nem soubesse, mas depois de pensar isso me deu um desgosto porque fui percebendo, por dentro da chuva, que talvez eu não quisesse que ele soubesse que eu era eu, e eu era." - Caio Fernando de Abreu; do conto "Além do Ponto": Morangos Mofados.

São 6:16 da manhã, já amanheceu, estou sentada no escritório. Cercam-me os livros queridos, e assim sozinha, enxergo muito mais minha casa do que a tenho sentido nos dias sóbrios.
São 6 e alguma coisa da manhã, e meu estômago está embrulhando. A vontade é de voltar àquela sensação de alegria vacilante, que me preenche o vazio, que hoje transparece por detrás de mim mesma.
São 6 e pouco da manhã, domingo, eu estou escrevendo, os passarinhos estão cantando, e na rua o mundo parece parado. Dentro de mim, a sensação de continuar andando contra a vontade das pernas, sem querer, poder ou conseguir.
A memória como fragmentos, me vem em relances, colapsos, pedaços em cápsulas, como pílulas que não me dizem nada.
A lembrança clara é de inconstâncias muito mais distantes, de dias desenfreados, que terminariam mais ou menos do mesmo jeito, com a exceção fundamental de que eu não estaria sozinha.
Meu (da biblioteca) "Morangos Mofados" não me restituiu o sono andarilho: deito-me agora ou permaneço acordada até as 9 da manhã num sinal de luto àqueles dias?
Nada me restituirá as grades que prendiam este bicho que hoje está solto, onde achava que via à mim mesma , mas era apenas um reflexo.
Por onde anda aquele ser?
Perdido, olha-me desconsolado, grita, numa voz estridente e muda: "O que aconteceu com você?!?"
Me aconteceu a vida, o tão incompreensível buraco no peito daqueles que pensam demais, que desconfiam e amam demais. Aconteceu-me o medo de morrer sem ter vivido nada.
Aconteceu-me a ânsia faminta da liberdade.


segunda-feira, 14 de março de 2011

Meus grandes

Minha experiência cinematográfica é muito mais ínfima do que eu gostaria que fosse.
De uma certa forma, acho que ainda que eu veja milhões de filmes e chegue a ter um entendimento razoável da arte do cinema - que atualmente não tenho -, sempre vão existir outros tantos milhões a serem vistos.
A impressão que fica pra mim a cada filme novo que assisto é a da minha enorme ignorância, fica claro o quanto tenho que aprender antes de conseguir entender pelo menos uma parte considerável das complexidades mais sutis por trás de qualquer filme.
Ainda assim, hoje me arrisco a fazer uma lista dos meus dez preferidos. Quando me propus a selecionar esses dez, não imaginava o quanto seria difícil escolher somente estes, quantos eu deixaria de fora com um pesar imenso.
Aviso previamente que esses dez não são necessariamente os melhores filmes que já vi, mas que são os que, no geral, mais mexeram comigo, mais me marcaram de formas diferentes.
Nenhum comentário abaixo tem muito de técnico, a maioria deles vêm de impressões, sentimentos, empatia com personagens, o meu laço afetivo com os filmes em questão.
Vão aí, meus grandes:

* O Silêncio dos Inocentes

Esse filme, por alguma razão, exerce uma fascinação incrível sobre mim, já o assisti incontáveis vezes.
Mais que o suspense tremendamente bem construído, e o final que quase não me deixa respirar de tanta tensão, marca a incrível atuação de Anthony Hopkins, no papel de Hannibal Lecter, o psicopata canibal mais interessante e charmoso de todos os tempos.
Não dá pra esquecer também sua química inigualável com Jodie Foster, que representa uma policial recém formada e que entrevista o psicopata para que ele, com sua excepcional inteligência, a ajude a desvendar um caso e pegar um assassino.
É incrivelmente perturbador o primeiro contato que temos com Hannibal, ao contrário dos outros loucos do local onde ele está preso, ele se mostra extremamente calmo, limpo, e com um sorriso que dá muito mais medo que qualquer cara de mau.
A atuação dos dois é impressionante, Jodie construiu para a personagem um sotaque bem acentuado do interior do Estados Unidos com uma perfeição incrível, e uma das melhores cenas do filme é a que ele imita seu sotaque em meio a um dos tantos diálogos geniais que os dois travam, sem que isto estivesse previsto no roteiro, o que deixou, mais que a personagem, a atriz irritadíssima.
O tempo todo eles jogam jogos psicológicos, e ao mesmo tempo que ele parece saber exatamente o que fazer para controlá-la, também parece se envolver com ela.
O resultado é esse filme incrível.

*Tomates Verdes Fritos

O filme começa com o encontro de Evelyn, uma dona de casa de meia-idade, frustrada, infeliz, com baixa auto-estima e acima do peso, com a velha Ninny, num abrigo de idosos.
Ninny conta a Evelyn a história de Ruth e sua amizade com Idgie: uma mulher livre e contestadora, para os padrões patriarcais da época, que acabou ensinando à Ruth, com sua amizade inabalável, um jeito de ser feliz. (Fica subentendida uma relação lésbica entre as duas).
Durante a história, Evelyn também vai aprendendo a gostar mais de si mesma, o que começa a mudar sua vida.
O filme conta basicamente a vida dessas quatro (que na verdade são três) mulheres, lutando por sua liberdade e pela parte da felicidade que lhes cabe em meio à uma sociedade cheia de discriminações, experimentando o amor e a doçura da vida, apesar das dificuldades, tudo isso contado de uma forma tão sensível que eu provavelmente não conseguiria explicar.

*Os sonhadores


Um dos meus filmes preferidos dentre os dez que selecionei, e talvez o mais, em si mesmo, sedutor.
Desde a beleza dos três personagens principais, até as cenas, remontando clássicos do cinema, tudo nele me atrai.
O filme conta a história de três jovens, cinéfilos, e apaixonados, em todos os sentidos. Eles são irreverentes, revolucionários, idealistas.
Theo e Isabelle são irmãos, gêmeos, a acabam atraindo Matthew, um americano arrumadinho, para sua aventura.
A trilha sonora é totalmente sensacional, composta por músicas de Janis Joplin, Jimi Hendrix, The Doors, Bob Dylan.
A relação sexual entre os três vai se desenvolvendo no decorrer do filme, principalmente através de um jogo inventado por eles, em que um deles deve representar, de repente, em um momento inusitado, uma cena de um filme aleatório, e um outro escolhido deve adivinhá-la. Se isso não acontece, a pessoa que errou o filme deve cumprir uma espécie de conseqüência, sempre muito mirabolante e excêntrica.
Apesar de tudo, o filme não deixa de ser um hino ao cinema e à juventude, e é impossível não sair dele completamente apaixonada pelos três personagens principais.

*Breakfast at Tiffany's



Tenho um verdadeiro caso de amor com esse filme.
Primeiro porque amo a Audrey Hepburn: a mulher mais linda que já passou pela Terra.
Notável a parceria incrível Audrey-Givenchy, e portanto, as roupas lindíssimas que ela veste durante o filme.
Tão linda quanto ela é a personagem Holly Golightly, uma das personagens mais adoráveis de todos os tempos, uma charmosa e discreta garota de programa, que no fundo é extremamente romântica, e espera seu príncipe encantado, o homem que lhe fará querer montar uma vida, mobiliar o apartamento e dar nome ao gato.
Holly é muito interessante por ser muito ambígua: ao mesmo tempo que ela parece demonstrar certa malícia, também se mostra extremamente ingênua.
Não costumo gostar de finais felizes, mas minha simpatia personagem é tão imensa, que não ficaria satisfeita com um final diferente.
Além de tudo isso, a música do filme é lindíssima (Moon River), e me deixa emocionada desde a primeira cena.

*Pulp Fiction


Pra mim, Pulp Fiction é a obra prima do Tarantino.
Como todo filme desse diretor (que eu simplesmente amo), é todo carregado de violência e humor negro.
O Pulp Fiction em especial tem uma coisa com o tempo muito bacana, porque o roteiro não é linear, a história é dividida em "quadros" que não necessariamente estão na ordem temporal, de forma que, às vezes os personagens aparecem com roupas engraçadas ou tomando determinadas atitudes que só são explicadas depois.
O filme tem umas cenas geniais, como a overdose da Mia Wallace (Uma Thurman), esposa de um dos chefões da "máfia".
Seu marido viaja e a deixa com um de seus "capangas": Vincent Vega (John Travolta, que aliás, está ótimo no filme: um brutamontes com um cabelo nos ombros, engraçadíssimo).
Enquanto Vincent entra no banheiro pra tentar se convencer a não dormir com a esposa do patrão (o que faria dele um homem morto), Mia põe pra tocar "Girl, You'll be a woman soon" na sala. Enquanto dança, acaba achando um saquinho de heroína no bolso do casaco do acompanhante, que ela cheira pensando ser cocaína.
Quando Vincent adentra a sala, Mia está tendo uma overdose.
Não sabendo o que fazer, ele a leva para a casa do traficante, um completo loser, que também não tem a mínima idéia de como proceder.
Não sei o que é que me faz gostar tanto do filme, ás vezes fico pensando se cenas como essa, ou como a de dois bandidos explodindo sem querer a cabeça de um cara inocente (outra seqüência incrível) não disparam alguns desejos reprimidos em quem assiste.
Bom, essa parte deixo para a psicanálise, eu sei que o filme é divertidíssimo e genial.

*Os Famosos e os Duendes da Morte

Esse é um filme brasileiro, gaúcho, e que me surpreendeu muito.
O filme é poesia pura, traz umas discussões bacanas sobre a tristeza, a morte, tem uma trilha sonora linda, a fotografia incrível (um dos pontos fortes do filme).
A história se passa em uma cidadezinha do Sul, com um alto índice de suicídios. O personagem principal é um menino, que não tem nome e se apresenta com o apelido que usa na internet: "Mr. Tambourine Man" (o título de uma música linda do Bob Dylan).
Ele trava uma relação estranha com um casal que postava vários vídeos em seu blog, e o tempo todo a história do menino é intercalada pelos tais vídeos. Os vídeos são muito táteis e visuais, parecem tratar de experimentações sensoriais dos dois, de uma forma muito poética (só vendo mesmo pra entender).
Fica, pra mim, a sensação de estar preso àquela cidade, àquela vida que é a mesma há gerações, àquele lugar que parece que parou no tempo. A ponte, metáfora do suicídio, acaba se apresentando como única fuga possível. ("Naquela cidade, cada um sonhava em segredo").
Não vou contar o segredo do filme.
Vale ressaltar que ele possui frases lindíssimas.
"Infância: nossas bocas sorrindo até o fim.
Como o que ficou pra trás, como o que nunca mais será redescoberto, como o que nunca voltará a ser três."
"Estar perto não é físico."

*O Fabuloso Destino de Amelie Poulain


O Fabuloso Destino de Amelie Poulain é, pra mim, o que se pode chamar de um filme impecável.
Desde a trilha sonora (do amado Yann Tiersen), a atuação incrível de Audrey Tautou, o roteiro poético, a narração incrível, até a fotografia, trabalhada principalmente nos tons de vermelho e verde, todos os detalhes são perfeitos.
O filme tem gosto de torta de maçã e cheiro de café da tarde.
É simplesmente uma das abordagens da vida mais sensíveis que já vi.
Amelie é uma personagem muito interessante, dá pra ver nela uma espécie de olhar infantil que parece enxergar tudo de uma forma mais simples, muito mais presa às essências, e ao mesmo tempo, tem uma dificuldade afetiva imensa, até para se comunicar.
O que fica evidenciado até mesmo no fato de a atriz possuir pouquíssimas falas ao longo do filme.
Amelie é extremamente solitária e totalmente adorável, e a minha vontade, durante o filme, é de colocá-la no colo.
Inesquecível a forma delicada como ela consegue melhorar a vida de todas as pessoas à sua volta com atitudes simples, mas não consegue fazer a si mesma feliz.

*As Virgens Suicidas

Dos filmes citados, esse foi o que vi mais recentemente, e entrou de cara para os meus preferidos.
Não sei bem porque... O olhar da Sofia Coppola é simplesmente genial, e a delicadeza com a qual ela representa o universo feminino, é notável.
O filme conta a história de cinco meninas lindas, criadas por pais repressores, e que procuram, no seu mundo particular, fugas para a tristeza do seu cotidiano vazio.
A obra me chamou a atenção desde o seu primeiro diálogo, entre um médico e a irmã mais nova, a primeira a tentar suicídio. Frente à sua tentativa frustrada, no hospital, o médico lhe pergunta o que ela faria ali, se não tinha nem idade para saber o quanto a vida era ruim. A resposta de Cecília é a seguinte: "obviamente, Doutor, você nunca foi uma garota de 13 anos."
O grande trunfo do filme, na minha visão, é o fato de a história ser contada através da ótica dos garotos daquela rua, totalmente encantados pela beleza das meninas.
Além disso, chama atenção a personagem de Kirsten Dunst, a mais irreverente das irmãs, apaixonadas por rock, e absolutamente deslumbrante.

* O casamento do meu melhor amigo


Essa é uma típica comédia romântica. Ok, não vou ser injusta, não como essas comédias românticas atuais horríveis , mas ainda assim, não deixa de ser bem água com açúcar.
E é um dos meus filmes preferidos no mundo porque me faz rir, e chorar e suspirar, não sei quantas tardes passei assistindo este filme, não sei quantas lágrimas e quantos sorrisos posso atribuir a ele.
A história é basicamente o seguinte: um homem e uma mulher são melhores amigos há anos, já passaram várias noites juntos sem, no entanto, nunca terem sido mais que amigos (ainda que ele sempre tivesse sido apaixonado por ela).
E então, um belo dia ele liga para ela, contando que vai se casar. Como era de se esperar, ela se desespera e percebe que sempre o havia amado (bem previsível), e começa a arquitetar planos para acabar com o casamento dele com a tal moça (Cameron Diaz), aparentemente bobinha, riquinha e mimada.
Acreditem, o filme é absolutamente adorável, divertido e doce.
Além disso, Julia Roberts está linda, Cameron Diaz está engraçadíssima (uma das melhores cenas do filme é a que ela canta horrivelmente "I just don't know what to do with myself" num karaokê), e se nada disso contasse, o filme valeria por essa cena que postei, uma das cenas mais queridas que já vi, Michael (Dermot Mulroney) cantando e dançando com Julianne (Julia Roberts) a música dos dois (pela qual sou apaixonada): "The way you look tonight".
Em outras palavras, sou romântica.

* Cinema Paradiso


Uma das maiores e mais lindas homenagens ao cinema.
O filme começa com Salvatore recebendo a notícia da morte de Alfredo. As lembranças dele então nos levam à história de sua infância, quando ele era Totó, um menininho ensinado por Alfredo, o projecionista de uma cidadezinha na Itália, a amar o cinema.
Enquanto Alfredo cortava dos filmes as cenas de beijo censuradas pela igreja, os dois se encantavam com a beleza desta arte. Salvatore vai embora, adolescente, por conta de um amor que não deu certo, e nunca mais volta á sua cidade.
O cinema paradiso, onde os dois assistiam os filmes, acaba destruído para que se construa um estacionamento em seu lugar.
Mais que tudo, o filme fala do cinema antigo, do valor que ele tinha, e a metáfora do prédio destruído, na minha visão, tem uma super relação com a comercialização do cinema, que na grande maioria das vezes, já não tem a função de encantar, de reportar as pessoas à poesia de outras vidas, já não existe como forma de arte, mas muito mais como uma indústria.
Deixo a cena final, lindíssima, uma edição de todas as cenas de beijo censuradas e guardadas por Alfredo.

* Edward Mãos de Tesoura


Minha história com o Edward vai um pouco além da sensibilidade do filme, a obscuridade doce do Tim Burton e a atuação incrível de Johnny Depp, ao lado de uma Winona Ryder menina, quase irreconhecível.
Quando eu era criança via muito esse filme, e me identificava muito. Não sei bem porque, acho que por um lado, todo mundo se sente um pouco Edward, diferente das outras pessoas, ansiando frustradamente por ser igual.
Johnny Depp é Edward, um ser humano criado por um cientista e que nunca foi acabado, pois seu criador (pai) morre antes de terminá-lo, e por isso lhe faltam as mãos: em seu lugar ele possui um punhado de tesouras. Edward nunca conviveu com pessoas, e por isso, ao ser acolhido por uma simpática dona de casa, não sabe bem como se comportar e acaba se metendo em uma série de confusões.
Além disso, se apaixona pela filha da moça que o acolheu (Winona Ryder), amor que não se realiza devido ás injustiças cometidas pelas pessoas da cidade, que acabam considerando-no uma aberração.
Edward sempre viveu sozinho, e acaba sozinho, e talvez na solidão dele eu me visse um pouco.
O filme é muito triste, mas não deixa de ser muito sensível, lindo e poético.
Deixo aí uma das cenas mais bonitas de todos os tempos.

Obs: se forem contar, verão que no total são onze filmes, e não dez. É que não consegui deixar nenhum destes de fora.

Deixei de fora com o coração na mão:
Tudo sobre minha mãe, Casablanca, Garota interrompida, O Iluminado, Laranja mecânica, Donnie Darko e Beleza Americana.

Gostaria muito de saber um pouco de quais filmes marcaram vocês. Indico então esta listinha dos dez preferidos pra Anna, pro Victor, e pra Nina.


sábado, 12 de março de 2011

Fugaz

Um menino no corpo de um homem. Tanta tristeza escondida por trás da sua risada mais verdadeira. Beleza tão natural. Alma destemida, embora cheia de medos. Você tem tanto pra mostrar, mas sempre deixa alguma parte subentendida. Ninguém sabe o seu mistério, jamais adentraram o seu segredo, e essa é a questão. Idealizar-te é muito fácil. Como não desejar-te? Quero-te por uma noite eterna, provar-te, ouvir os teus segredos, contar os meus. Depois pego minhas coisas e vou embora.


domingo, 6 de março de 2011

Atestado da minha chatice

Larissa me passou esse questionário super bacana, fui dar uma lida e, ao tentar responder as tais perguntas, acabei reparando no quanto sou clichê. Prometo me esforçar para que as respostas não sejam entediantes demais - embora o questionário seja ótimo. Ou melhor, não prometo nada, se não gostarem, vão procurar em outro canto o que os agrade, meus caríssimos e tão queridos leitores. Sem mais enrolação, vá lá:

1 - Qual é para você o cúmulo da miséria?
Superficialidade. Não que não exista nada pior, mas acho que quem cultua o superficial é miserável, pois seu maior bem é perecível. Pra mim, o que vale de verdade é o que ninguém tira, o que é intrínseco. A beleza é um bem tão caro e que dura tão pouco... Não é que eu não me importe, ou que seja totalmente indiferente aos padrões impostos: a beleza externa existe e é importante, admito, só acho que existe muito mais beleza além desta óbvia.

2 - Onde gostaria de viver?
Normalmente eu me entregaria ao clichê e diria Paris, porque sempre sonhei com a capital francesa, paixão que foi intensificada depois de assistir "Paris, Je T'aime", um conjunto de curtas muito bacanas que se passam na cidade e evidenciam toda a sua beleza. Mas, em homenagem à fase que vivo agora, vou dizer que, neste momento, gostaria de morar em São Paulo, porque gostaria muito de cursar jornalismo lá, no fim deste ano.

3 - Qual o seu ideal de felicidade terrestre?
Estou ficando óbvia: meu ideal de felicidade terrestre são momentos lindos perto das pessoas que eu amo, dias alaranjados, inusitados, crises de riso por bobagens, um filme bom, uma noite incrível ao lado de quem gosto, um desses momentos em que a gente sente que pode se estender até o infinito só por tudo ser como é. Talvez pareça um ideal de felicidade "pequeno". Não pra quem, como eu, considera que a felicidade são momentos...

4 - Quais as faltas que merecem sua indulgência?
No geral, acho que as bem intencionadas ou aquelas cometidas por se amar demais. Na verdade, depende bastante do contexto.

5 e 6 - Qualidade que prefere no homem e na mulher
Alterei um pouquinho o questionário e juntei as duas perguntas porque as qualidades que gosto no homem e na mulher são as mesmas: no geral, gosto de pessoas habitadas.
Martha Medeiros explica: "pessoas habitadas são aquelas possuídas, de fato, por si mesmas, em diversas versões. Os habitados estão preenchidos de indagações, angústias, incertezas, mas não são menos felizes por causa disso. Não transformam suas “inadequações” em doença, mas em força e curiosidade. Não recuam diante de encruzilhadas, não se amedrontam com transgressões, não adotam as opiniões dos outros para facilitar o diálogo. São pessoas que surpreendem com um gesto ou uma fala fora do script, sem nenhuma disposição para serem bonecos de ventríloquos. Ao contrário, encantam pela verdade pessoal que defendem. Além disso, mantêm com a solidão uma relação mais do que cordial."

7 - Por qual personagem da literatura se apaixonaria?
Engraçado que é um personagem secundário, mas totalmente adorável: Miguel, de "A sombra do vento".

8 - Qual o seu palavrão preferido?
Filho da puta. Enche a boca na hora de falar.

9 - Qual seria para você a maior desgraça?
Perder as pessoas que eu amo, bem usual dizer isso, mas eu simplesmente não consigo imaginar nada pior.

10 - Como gostaria de morrer?
Mario Quintana define perfeitamente:
"A morte bem que podia ser assim:
Um céu que pouco a pouco anoitecesse,
E a gente nem soubesse que era o fim".

A casa é de vocês: Não repasso para ninguém em especial, mas deixo aí para quem se interessar e quiser responder, à vontade!

sexta-feira, 4 de março de 2011

Letreiros neon

Lembro-me bem dela entrando afobada porta à dentro, falando-me das mil luzes da cidade, que deslumbravam-na como tudo que é novo para dois olhos curiosos - aquele ar de menina deslumbrada talvez fosse o que mais me encantava.
Ou talvez fosse a sombra escondida por trás desse disfarce, sombra essa que só aparecia em raros momentos, dependendo muito da inclinação dos raios de sol, quando, em um instante fugaz, eu enxergava perfeitamente a mulher selvagem que se escondia por trás daquelas pupilas.
Ávida de tudo, ela comia as novidades, e eu, temeroso de uma criaturinha tão pequena a andar - quase dançar- distraída pelas calçadas da metrópole, alertava que isso aqui é uma selva de pedra, e que se num momento as vitrines pareciam refletir somente a beleza daquela vida que, seduzindo, se vendia, no outro tornavam-se em buraco negro, vazio de tudo, um vão existencial que suga quem se distrai.
A essas palavras ela reagia de forma peculiar: com olhos de criança assustada suspirava de aflição. Mas logo a imagem se distorcia em sua mente, e então, como ilustrações de um livro infantil, eu via minha advertência transformar-se em figura literal, e depois em piada.
E ela ria, eu tomava suas mãos entre as minhas enquanto, entre sorrisos, chamava-me de bobo, e quanto mais lhe implorava que não fosse, que não saísse assim, que olhasse pra mim, me levasse a sério, mais ela ria, e ria, e ria, e ria, até que uma lágrima lhe rolasse pela bochecha rosada.
Naqueles olhos mareados de ingenuidade, eu via, ao contrário, a cobiça de quem a via passar por trás das vitrines, brincando, testando os próprios limites, que ela ainda não conhecia bem, desfilando entre as luzes do seu mundo imaginário, muito pouco atenta aos perigos da realidade.
Em meio aos anúncios neon, o tempo dela se desmembrava, e, sem perceber, expunha-se como obra de arte, ou, mais exatamente, como produto absolutamente sedutor, caro demais para quaisquer olhos que não quisessem acabar perdidos.
E eu, muito mais perdido naqueles olhos de vitrine do que gostaria de admitir, a observava de longe, sem jamais ousar me aproximar, vigiava insone seus sonhos de menina-mulher.

Passas sem ver teu vigia, catando a poesia que entornas no chão.


quarta-feira, 2 de março de 2011

Da corrupção.

Enquanto estudava Revolução Russa, algo ficou muito claro na minha cabeça: a idéia do socialismo era inviável tal como foi pensada porque Marx considerou possível o que na minha opinião não é: a mobilização política da classe operária.
Durante a revolução houve sim participação popular, mas em momento algum essa classe liderou a revolução como havia sido teoricamente proposto, e, de fato, isso jamais poderia acontecer, uma vez que a classe operária simplesmente não tinha e ainda hoje não tem um nível de escolaridade suficiente para entender os pormenores da idéia revolucionária, bem como sua força e direitos.
O sistema é muito bem pensado para que seja assim: só quem compreende os absurdos da desigualdade social é quem não se interessa pela mudança do sistema. E assim, de forma articulosa, quem detém o poder, materializado na forma que for: terras, dinheiro, título de nobreza e (por que não?) conhecimento, permanece sempre no poder: muda-se o nome, jamais a cara.
Enquanto as revoluções forem feitas pela minoria intelectual privilegiada (ou seja, eu e vocês, meus caros), a tendência é que aconteça como na Rússia, o povo acabe liderado por um grupo que dirá representar o interesse comum mas, na prática, será somente parte de mais uma elite corrompida pelo poder.