domingo, 24 de novembro de 2013

Quem sou eu?

Um vulto, arrepio.
Um pássaro cruza o meu caminho
Encaro como um sinal para andar mais devagar
Dois olhos me vasculham
Apalpo meu sentimento: vazio
No espelho está estampada a contradição
Quem sou eu?
Quem sou eu?
Quem
sou
eu?
A pergunta se torna cada vez maior
A razão não dá um pio.

Sinto minha sanidade por um fio.



quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Confusão

O que fazer com essa sensação de não fazer parte de lugar nenhum? Hoje eu olhei pro mundo e me senti tão pequena e frágil, como se eu fosse uma formiga prestes a ser esmagada. Eu acordei num lugar em que nunca tinha acordado, e durante a noite tive vários sonhos. Neles eu olhava o tempo todo o relógio. Daí acordava assustada, e olhava o relógio real, me perguntando o que era real, as horas não eram as horas do sonho. E nesta perturbação das horas vi o dia amanhecer, na esperança de que o amanhecer do dia tirasse essa sensação de dentro de mim. Mas ela não foi embora. Estou aqui sentada sozinha, agarrada na solidão que me machuca tanto, nas coisas que habitam minha cabeça, meu coração, meu corpo, e que ninguém nunca vai entender, que nem eu mesma vou entender, por essa humanidade louca de todos os seres humanos. Não sei o que é que há no mundo que tanto me esmaga. Talvez seja o quanto o mundo é grande. E a infinidade de caminhos que vislumbro. A maldição de poder escolher e depois ter de arcar com toda e qualquer consequência. A maldição de estar acordada, e mesmo dormindo, a cabeça não para. Eu me esmago tanto quanto o mundo, meus falatórios intermináveis quando não é oportuno, e meus silêncios constrangidos quando o mais certo seria falar. E então eu procuro palavras que me deem uma dimensão mais confortável de mim mesma. Porque neste instante eu sou como uma imensa esfera tentando caber dentro de um quadrado minúsculo. As pontas e as arestas me machucam. Meu peito é prensado contra uma face dura e fria. Eu estou sufocada, sufocada de mim e do mundo. Eu estou partida, como mil cacos de vidro, pequenos cacos disjuntos tentando sobreviver ao rolo compressor da vida, ou da morte. A liberdade, como a desejo e como a temo. A liberdade de poder ser qualquer coisa me trava, passo a me dar conta demais de todas as minhas ações, e então não consigo agir naturalmente. E quanto mais não consigo agir naturalmente, mais me sinto mal comigo, mais penso milimetricamente em cada gesto e menos ajo naturalmente. O mundo é feito de ciclos viciosos, em todas as suas partes. A política, a realidade, o sistema, nós mesmos. Tudo é feito para ser imutável, tudo é feito para ser sempre o mesmo, e só deixará de sê-lo por algum esforço monumental, homérico, heroico, de um indivíduo ou de muitos. Eu não sei. Eu não sei o que alimenta ou pode alimentar minha alma neste instante. Meu amor está cheio de dureza, de tristeza e indiferença, minha fé está cheia de ceticismo. Estou sendo esmagada. Esmagada pela tentativa constante de ser melhor, de ouvir e compreender, e das perguntas lançadas como centenas de navalhas cortantes por segundo dentro de mim. Estou ferida. Imploro à mente que aceite e abrace a solidão que sinto sempre, imploro que não tenha medo de tudo, que se acostume com a ideia de largar o refúgio e andar com as próprias pernas, e, prioritariamente, imploro que se cale. Não tenho paz. Estou com medo, estou apavorada. O mundo me esmaga como onda quilométrica quebrando na cabeça.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

mãos no volante
pela janela o vento acaricia
cortante
olhos e cabelos

mochila no banco do passageiro
não olhe pra trás! trato feito
Milton canta no rádio
o adeus reverbera no peito

pés na estrada
sem rumo e sem telefone
sem nenhuma explicação
cair assim de braços abertos
nos braços da solidão

memórias esquecidas
rasgadas, pisoteadas e trituradas
abandonadas
e que o hoje se faça imperativo de todos os dias

então abre um olho
como se o outro olho fechado a poupasse da realidade
como se a mantivesse no sonho
sonho, me ensina a ver!
mas o sonho está emburrado, não ensina
e o olho triste só enxerga
o mesmo quarto sufocante
o mesmo amor indiferente
inexistente?
bobagem.
nada é sempre nada
o mesmo e velho
tão conhecido
sentidamente sentido
nada.

as pernas, por outro lado, existem
por que não se vão?
talvez levem a cabeça
talvez levem o coração
vão, pernas!
fujam enquanto é tempo
enquanto há tempo
enquanto sou
enquanto não sou nada
nada embaixo da terra.

mas as pernas preferem a possibilidade de felicidade futura
disseram para elas que o pote de ouro estava no fim do arco-íris
então as pernas correm apenas atrás do amanhã
e o amanhã está longe
sempre longe
no horizonte.

















sábado, 9 de novembro de 2013

Sem dramas

Mais um capítulo se fecha
Mais páginas do meu livro voam para sei lá onde
Eu que já perdi tanto mais
Penso que por um lado,
A perda de mais um pedacinho não será caso grave.
Dessa vez economizo minhas lágrimas
Começo, imediatamente, a recrutar areia, cimento, tijolo
Arregaço as mangas e me ponho a reconstruir
E agradeço, agradeço por existir,
Pela parte de mim que é indissolúvel, indivisível
Pela força maior que acredito estar sempre comigo
E que seja um conforto de tolo
E que esse conforto continue sento a pilastra que não me deixa cair.
Já não é o primeiro adeus e nem será o último.
Eu que me dispuz a passar pela vida de peito aberto
Sem medo
Continuo pelo meu caminho, pé ante pé
Pelas tantas coisas nas quais ainda acredito
Pelo amor que sempre foi real e nunca me faltou
Pelo pouco que tem significado na vida
Pelo quanto esse pouco é imenso
Inexorável
E então eu silencio tudo isso
Eu fecho o livro
Eu olho uma última vez e me despeço
Sem dramas.