sexta-feira, 31 de maio de 2013

Ressaca

Trago
fumaça tóxica
no meio de construções que não deixam ver o sol
lixo da civilização civilizada
Trago
no peito a vontade inútil de fazer qualquer diferença
dilema intrínseco de ser agulha num palheiro
Trago
fumaça mágica de dar asas à mente
da irreverência que precisa se ostentar em gesto
Trago
a infantilidade de ainda possuir sonhos
numa realidade camuflada
travestida
incoerente
Trago
o vazio existencial próprio da minha geração
Trago minhas palavras
trago outras palavras
profundamente
puxo o ar até que elas ganhem os meus pulmões
e espero que me invadam
me transbordem
me expliquem enfim
o que não sou capaz de entender

Realidade indigesta




terça-feira, 14 de maio de 2013

Carência

É... há dias em que não há razão, simplesmente não há razão.
não há perdão. nem para os meus,
nem para os seus pecados.
então por que você não vem?
deita aqui do meu lado...

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Hora. Ora.

O som do mar a encher de vida pés cansados, pernas que outrora estiveram entrelaçadas a outras pernas, e que, com o tempo, aprenderam a cartilha do caminhar só.
O mar dos olhos, o mar da presença tranquila, que deixa descansar, esse mar a encher a alma novamente, ensinando de novo a sonhar.
Ser um pouco criança, e ter fé.
Viver não contém uma só gota de racionalidade, não se tratam de probabilidades.
Tudo é um brotar e morrer. Morrer para brotar, brotar para morrer.
Boiar então, no oceano infinito, infinitamente vulnerável às marés, ao sol, ás vontades de entidades muito maiores, ainda que essas entidades sejam somente - cheio de majestade - o acaso.
Beleza no que é belo, e colher cada um desses instantes. Fazer sentido nunca foi necessário.
Reverenciar o que é incontrolável, viver o indizível como a mais bela poesia.
Se curvar diante do inexorável.
E abraçar cada um dos defeitos, cada uma das escolhas, cada uma das responsabilidades, cada uma das consequências como quem recebe um filho pródigo novamente nos braços cheios de saudade.
Imagens que não dizem nada, livre associação de palavras, livre sentimento.
Liberdade.
Amém.