terça-feira, 27 de novembro de 2012

Parto

Talvez a vida seja feita de pequenas solidões no banco da praça
de pequenas realizações de olhos que sorriem
de pequenas lágrimas de grandes saudades
de uma poesia muito parca, muito simples
que se pretendia Drummond
e acabou sendo a plantinha que nasce entre as rachaduras do concreto
sem importância, sem beleza, sem visibilidade
esquecida
mas esquecidos todos estamos
somos todos homens mortos
desde o instante em que nos tiraram ensebados daquela mulher
que nos deve boa parte de suas rugas
e tudo o que soubemos fazer foi chorar
quem é que nos trouxe pro frio, pra essa luz que cega?
era tão bom, tão quentinho, um coração pulsando num ritmo acalentador
talvez a vida seja feita simplesmente de uma busca pelo útero materno
talvez a vida seja feita de imensas desilusões
e na melhor das hipóteses, desconstrução de muitas certezas
talvez a vida seja ter um grande objetivo
e ao chegar a ele, descobrir que o que era bom era buscá-lo
e que choramos e nos martirizamos porque não éramos bons o bastante
mas na verdade, assim éramos melhores
talvez a vida seja sempre esse buscar a felicidade no futuro
e descobri-la, tarde demais, no passado
mas jamais ser feliz.

Um comentário:

  1. Parto e poesia. Dores e delícias. Vida, pode não ser especial, mas é a que temos. Nós a tornamos especial.
    Abraços.

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