quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Epifania

Ontem, no meio de sonhos delirantes
meio adormecidos, meio acordados
minha cabeça vagava por rostos de fantasmas
e eu me perguntava se afinal de contas o belíssimo ano novo
todo arrumadinho e vestido de branco
não estaria de fato amaldiçoado por essa noite insana
suspirando agonia
Ontem, olhando para cima
me vi de uma perspectiva diferente
tão pequena e maravilhada diante do privilégio de existir
ora, veja só, me dei conta de que boio despercebida no infinito
e não sou nada
que solidão consoladora a de me sentir humana
e nada, nem um fio de cabelo, nenhum desejo, nenhum equívoco
além dos próprios de minha humanidade
Ontem não acreditei no que vi nos olhos do amor
o senhor aí, amor, é, o senhor mesmo
não faça essa cara de desentendido
deixe cair sua máscara sublime
por um único momento, me olhe com sinceridade
e venha se arrastar no chão comigo
talvez quando e se o amor for
tão real quanto o barro sob os meus pés
talvez então eu o entenda
talvez então ele fale minha língua
e a aprisione em sua boca!
Ontem eu entendi que o silêncio é o refúgio maior
de quem, à trancos e barrancos, procura manter seus próprios cacos disjuntos
formando uma coisa só
como uma espécie de frankenstein
mas ainda assim, vivo.
Mantenha-se viva.
essa é a ordem
esse ainda é o maior pulsar em mim
o grito de minha espécie.
Ontem tive epifanias doloridas.
Hoje tenho a cabeça dolorida.
Talvez eu esteja lendo Bukowsky demais.




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