Te vejo dormir no reflexo da tela do computador e entendo. Você é um reflexo. Uma aparição. Uma imagem bonita que eu nunca vou poder tocar.
Você é o capítulo do momento.É essa história, minha história sendo escrita. Você é o símbolo da guerra que declarei a tudo e todos. Da desconstrução pela qual preciso passar pra continuar seguindo. Tantos tijolos não servem mais. O chão há de ser reasfaltado. Nesse chão não caminho mais. Afundo.
Você é o antipoeta. E eu, que sempre fui amante fiel das palavras, traio-as agora. Me apaixonei pela anti-poesia. Você não só não escreveu nunca nenhum verso, como declarou guerra a todos eles. E vive de ser objetivo. Pragmático. Se é, é. Se não é, não é. A racionalização é o método. Controlar, programar, saber prever o fim. Se preparar. Não ter pertença, não depender, não precisar. Não. Se. Apegar. Aparecer e desaparecer. Não criar padrões. Discordar.
Você nasceu ironicamente no mesmo dia que eu. Nasceu pra ser a negação de tudo o que sou. E como toda negação, é também uma afirmação de mim. Você sou eu, sendo o meu oposto. As duas caras de gêmeos.
E é assim que você vai passar na minha história. Sendo exatamente o que é. Meu reflexo e meu oposto. Minha imagem invertida. Sua esquerda é a minha direita e minha direita sua esquerda.
Ao me ver assim tão crua, ao me encontrar comigo e me tocar, literalmente, talvez eu entenda. Talvez eu possa seguir em frente. Talvez eu possa começar a ser um pouco o que sempre almejei. O contrário do que sou.
Pois termina assim. Faço como você e prevejo o nosso fim.
segunda-feira, 28 de setembro de 2015
quinta-feira, 10 de setembro de 2015
Olhos de cão (azul)
Planejamos minunciosamente um grande assalto
Sequestramos os ponteiros do relógio
Fizemos o mundo virar do avesso
E nesta lacuna de impossibilidade
Transformada em lugar concreto
(Furo forjado no espaço-tempo)
Concretizamos a promessa
De estarmos sempre juntos
Vivemos eternidades
Dormimos nas estrelas
Inventamos histórias, tantas
De tudo o que somos
Do que é o mundo e o que são as coisas
Escrevemos novas leis, novas regras
Um novo dicionário
Mergulhamos no silêncio um do outro
Nos olhos um do outro
Na pele e no cheiro um do outro
Passamos a morar
Um dentro do outro.
Foi quando o primeiro raio de sol
Adentrou a janela do meu quarto
E me acordou.
Você não estava do meu lado.
Passei a te procurar nas esquinas
Nas padarias
Nos sinais fechados
Onde estão seus olhos?
Olhos de gato
Os meus olhos tristes de cão
Despejam lágrimas
Na minha imensidão
Eterna escuridão
Azul.
Sequestramos os ponteiros do relógio
Fizemos o mundo virar do avesso
E nesta lacuna de impossibilidade
Transformada em lugar concreto
(Furo forjado no espaço-tempo)
Concretizamos a promessa
De estarmos sempre juntos
Vivemos eternidades
Dormimos nas estrelas
Inventamos histórias, tantas
De tudo o que somos
Do que é o mundo e o que são as coisas
Escrevemos novas leis, novas regras
Um novo dicionário
Mergulhamos no silêncio um do outro
Nos olhos um do outro
Na pele e no cheiro um do outro
Passamos a morar
Um dentro do outro.
Foi quando o primeiro raio de sol
Adentrou a janela do meu quarto
E me acordou.
Você não estava do meu lado.
Passei a te procurar nas esquinas
Nas padarias
Nos sinais fechados
Onde estão seus olhos?
Olhos de gato
Os meus olhos tristes de cão
Despejam lágrimas
Na minha imensidão
Eterna escuridão
Azul.
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