sábado, 11 de junho de 2016

Nada-ser

Remédio amargo
Vou entendendo que sou sozinha.
Em alguns momentos aproveito o conforto
De ser o único ser pensante dentro de mim.
Nesse casulo quente que é o meu corpo
Minha mente vaga universos.
Invólucro
Limita as minhas possibilidades metafísicas
Enquanto enche de cores e sinestesias
O território quadrado da razão de Descartes.
Às vezes gosto da perspectiva de que meus olhos
Sejam a única lente gravando
A beleza que eu vi no mundo
E que minha consciência seja a única telespectadora
Das emoções inebriantes
Que encharcam meus nervos.
Ás vezes o que vejo me deslumbra de tal maneira
Que prefiro não empobrecer o sentimento com palavras.
Ás vezes gosto da incompreensão do que é ser outro
E da incompreensão dos outros acerca do que eu sou.
E vou me descolando das outras vidas
Aprendendo a deixá-las partir.
Em outros momentos sinto uma ausência espinhenta
Alguma coisa que está ali, mas que é só falta
Como seria possível dimensionar o que não existe?
Ás vezes parece que a falta é a maior parte do que sou
Como se eu estivesse repleta de espaços vazios
E porque o nada é infinito
Não posso caber em lugar algum.






Nenhum comentário:

Postar um comentário