terça-feira, 27 de junho de 2017

Terra seca

Escrevo porque tomei minha dose diária de masoquismo
E agora esse gosto amargo parece espremer
Minhas glândulas salivares
Um nó nas amígdalas
Sucede a linha de metal que se prolonga da agulha
Que cutuca meu peito
Só sei escrever assim, quando tudo me parece desconfortável
E não há outra forma de caber no mundo.
Quando todas essas insatisfações se fazem interrogações
Que se cravam debaixo das minhas unhas
E a insuficiência marcada no meu corpo
Tão comum e pálido
Me dá arrepios
- Passo pela rua com o senho franzido
Alguém chama meu nome, tenho que me virar porque mais uma vez passei batido
"Que cara de preocupação!" Estou sempre dentro de mim
Percorro caminhos sem ver por onde ando
Procuro a mim mesma
Em algum lugar entre os fios de metal que compõe meu sentimento
E me perco na teia de minha própria urgência -
Talvez tenha me encontrado mas esteja inconformada com o que vejo
(Nada me amedronta mais
Que o momento em que tenha que parar
Essa correria incessante
Calar minhas lições sempre tão seguras de si
Fazer as contas de tudo o que fui até aqui
E talvez descobrir o débito que tenho com a menina de 6 anos com o rosto apoiado nas mãos).
Tenho vivido um dia depois do outro, e o limite entre eles fica cada vez mais turvo
Da janela do facebook tudo parece bem, as pessoas parecem felizes
A realização parece um fruto de fácil plantio
Que em toda terra cresce e que a natureza dá de bom grado a quem o saiba colher
Enquanto a árvore de minha vida seca e se encurva
Como, aliás, todas as outras árvores de minha casa.
Para não dizer que seja tudo infertilidade
Confesso a existência de uma única fruta
Escondida debaixo da terra, debaixo da minha pele
O pulsar único, a linha-guia da minha alma, a essência viva do meu sangue
Uma fruta vistosa e brilhante, de uma polpa ácida que corrói os dentes
Ou então, apodrecida na casca, mas contendo o néctar mais doce do mundo em seu interior
A depender de quem a come
Minha poesia.








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