sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Ensaio sobre a liberdade

Pink Floyd tocava no som da sala.
E ela se encontrava ali, jogada no tapete, os pés brancos e muito magros apoiados no sofá, os cabelos rebeldes e negros espalhados entre as fibras do tapete, molhados pelas lágrimas que lhe rolavam insistentemente a face.
Ela tinha evitado por um bom tempo os cigarros, e agora estava coberta de cinzas, a mão trêmula levava o objeto do vício à boca, e ela tragava profundamente, até o fim, antes que a brasa daquele fosse acender a ponta do próximo.
Sentia coisas tão opostas e tão mescladas que não conseguia compreender o próprio pranto. Talvez fosse culpa daquela garrafa de whisky vagabundo jogada, vazia, displicentemente ao seu lado.
De certa forma, este retrato lhe era muito mais agradável aos olhos que aquela imagem cotidiana de si mesma. Aquilo era muito melhor que a completa anulação diária de seu ser, do que ela era.
O amor não tinha dado em nada e tinha lhe tomado tudo. "Mas se não me resta nada...".
Se levantou, pegou a bolsa, as chaves do carro, e dirigiu sem pensar realmente no que estava fazendo. Entrou no aeroporto, comprou uma passagem para "Chile me parece bom...".
Fumou mais um cigarro no estacionamento enquanto esperava seu vôo. "Fumo, e se preciso for morro disso. Não adio mais um segundo de vida."
No Chile conheceu os poemas de Neruda, que lhe encheram a alma, embora, agora soubesse, se tratassem de mentiras, muito sinceras, mas ainda assim mentiras.
A vida toda tinha lhe faltado impulsividade: "forjemos o que nos falta!", essa única frase foi a derradeira despedida do Grande Amor, num e-mail sem mais explicações, mandado às pressas.
Nunca mais voltou.

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