segunda-feira, 4 de abril de 2011

De estar viva

Por tanto amor
Por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz
Manso ou feroz
Eu caçador de mim

A vida podia ser mais exata.
Já disse Fernando Pessoa que viver não é preciso. E ele não falava de necessidade, falava de precisão.
Mas se me perdoam a petulância, descobri uma das leis que regem o universo: há que se arrumar o que está dentro, toda a realidade externa é um reflexo disso.
Não sei bem como acontece, mas em um momento, tudo fica claro, límpido. A tristeza sempre está lá, no cantinho do armário (the skeleton), mas já não há medo, já não há mágoa, já não há tempo, tudo o que eu faço é fruto da minha vontade, porque minha vida está nas minhas mãos, porque eu sou completamente livre, ao menos nesse instante fugaz.
Depois de chorar rios, a alma seca. E com a sequidão vem a serenidade. E a solidão prega no fundo dos olhos, e ainda assim, tudo se faz em tranquilidade. Marasmo de ser uma, somente uma, somente minha.
Sim, pois não sou de ninguém e jamais serei. Meu coração me pertence. Minha força vem de algum lugar nativo recentemente descoberto, e permitido somente à mim.
Tanto me negaram, que aprendi a dizer-me sim. Aprendi a respeitar-me pelo respeito que me faltou, aprendi a amar-me pelo amor que foi pouco, aprendi a acarinhar-me, a colocar a mim mesma nos braços e cuidar-me com a ternura que já não posso dedicar à ninguém, pelo colo que não tive.
Não, meu segredo não está descoberto. Há quem pense tê-lo adentrado. Não, meu segredo é minha essência, meu segredo é só meu.
A tristeza por trás do sorriso é o que ninguém vê. E é o que faz com que eu mereça esse nome e essa cara.
...
Caminhei, caminhei, caminhei, até que as pernas implorassem por descanso, e aí caminhei mais um pouco. No deserto de mim, enfrentei tempestades em silêncio. E colhi minha rosa única. Briguei com Deus, e as feridas dessa batalha estão muito expostas.
Encerro, enfim, esta vida de andarilha da verdade e da fantasia, que são uma só.
Descobri que o surto é tão real quanto a sanidade.
E a embriaguez me deixa infinitamente mais atenta.
Vivo.
Digo e calo, sei e não sei, invento e falo a verdade, minto, sou e não sou, paradoxalmente: vivo.
Não explico: vivo.


7 comentários:

  1. E não há explicações sobre a vida. Ser é ter. Viver é sonhar. Não exatamente na mesma ordem
    Um beijo

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  2. liberdade é uma completa ilusão. você pode achar que é livre, mas nunca vai ser de verdade.

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  3. Eu sempre lhe achei muito guerreira. Caçadora de si própria. A vida é assim mesmo, Sofia. O resto é memória.

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  4. Viver é sonhar e tocar, é perder-se e descobrir-se, e paradoxalmente assim, viver é lindo.

    Um blog encantador

    Beeijo

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  5. "Digo e calo, sei e não sei, invento e falo a verdade, minto, sou e não sou, paradoxalmente: vivo.
    Não explico: vivo."
    É isso. Viver existir ser é isso.
    beijo

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  6. Viver é cansativo, ao menos por enquanto. Estou começando a aprender o que todo seu texto diz. Que sou minha e somente minha. Não dependo de ninguém além de mim mesma. E se consequências sangram, foi porque as permiti.

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  7. Não dá para explicar mesmo, viver envolve tanta coisa que é impossível querer resumir todas as facetas com palavras.

    Beijos.

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