quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Confusão

O que fazer com essa sensação de não fazer parte de lugar nenhum? Hoje eu olhei pro mundo e me senti tão pequena e frágil, como se eu fosse uma formiga prestes a ser esmagada. Eu acordei num lugar em que nunca tinha acordado, e durante a noite tive vários sonhos. Neles eu olhava o tempo todo o relógio. Daí acordava assustada, e olhava o relógio real, me perguntando o que era real, as horas não eram as horas do sonho. E nesta perturbação das horas vi o dia amanhecer, na esperança de que o amanhecer do dia tirasse essa sensação de dentro de mim. Mas ela não foi embora. Estou aqui sentada sozinha, agarrada na solidão que me machuca tanto, nas coisas que habitam minha cabeça, meu coração, meu corpo, e que ninguém nunca vai entender, que nem eu mesma vou entender, por essa humanidade louca de todos os seres humanos. Não sei o que é que há no mundo que tanto me esmaga. Talvez seja o quanto o mundo é grande. E a infinidade de caminhos que vislumbro. A maldição de poder escolher e depois ter de arcar com toda e qualquer consequência. A maldição de estar acordada, e mesmo dormindo, a cabeça não para. Eu me esmago tanto quanto o mundo, meus falatórios intermináveis quando não é oportuno, e meus silêncios constrangidos quando o mais certo seria falar. E então eu procuro palavras que me deem uma dimensão mais confortável de mim mesma. Porque neste instante eu sou como uma imensa esfera tentando caber dentro de um quadrado minúsculo. As pontas e as arestas me machucam. Meu peito é prensado contra uma face dura e fria. Eu estou sufocada, sufocada de mim e do mundo. Eu estou partida, como mil cacos de vidro, pequenos cacos disjuntos tentando sobreviver ao rolo compressor da vida, ou da morte. A liberdade, como a desejo e como a temo. A liberdade de poder ser qualquer coisa me trava, passo a me dar conta demais de todas as minhas ações, e então não consigo agir naturalmente. E quanto mais não consigo agir naturalmente, mais me sinto mal comigo, mais penso milimetricamente em cada gesto e menos ajo naturalmente. O mundo é feito de ciclos viciosos, em todas as suas partes. A política, a realidade, o sistema, nós mesmos. Tudo é feito para ser imutável, tudo é feito para ser sempre o mesmo, e só deixará de sê-lo por algum esforço monumental, homérico, heroico, de um indivíduo ou de muitos. Eu não sei. Eu não sei o que alimenta ou pode alimentar minha alma neste instante. Meu amor está cheio de dureza, de tristeza e indiferença, minha fé está cheia de ceticismo. Estou sendo esmagada. Esmagada pela tentativa constante de ser melhor, de ouvir e compreender, e das perguntas lançadas como centenas de navalhas cortantes por segundo dentro de mim. Estou ferida. Imploro à mente que aceite e abrace a solidão que sinto sempre, imploro que não tenha medo de tudo, que se acostume com a ideia de largar o refúgio e andar com as próprias pernas, e, prioritariamente, imploro que se cale. Não tenho paz. Estou com medo, estou apavorada. O mundo me esmaga como onda quilométrica quebrando na cabeça.

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