quinta-feira, 14 de novembro de 2013

mãos no volante
pela janela o vento acaricia
cortante
olhos e cabelos

mochila no banco do passageiro
não olhe pra trás! trato feito
Milton canta no rádio
o adeus reverbera no peito

pés na estrada
sem rumo e sem telefone
sem nenhuma explicação
cair assim de braços abertos
nos braços da solidão

memórias esquecidas
rasgadas, pisoteadas e trituradas
abandonadas
e que o hoje se faça imperativo de todos os dias

então abre um olho
como se o outro olho fechado a poupasse da realidade
como se a mantivesse no sonho
sonho, me ensina a ver!
mas o sonho está emburrado, não ensina
e o olho triste só enxerga
o mesmo quarto sufocante
o mesmo amor indiferente
inexistente?
bobagem.
nada é sempre nada
o mesmo e velho
tão conhecido
sentidamente sentido
nada.

as pernas, por outro lado, existem
por que não se vão?
talvez levem a cabeça
talvez levem o coração
vão, pernas!
fujam enquanto é tempo
enquanto há tempo
enquanto sou
enquanto não sou nada
nada embaixo da terra.

mas as pernas preferem a possibilidade de felicidade futura
disseram para elas que o pote de ouro estava no fim do arco-íris
então as pernas correm apenas atrás do amanhã
e o amanhã está longe
sempre longe
no horizonte.

















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